quarta-feira, 30 de maio de 2012

a sua carta e a minha sanidade, parte 1 de 2.

Káah Azamba

   não lembro muito bem, para minhas lembranças parece que foi há tanto tempo que isto aconteceu, mas sinto como se fosse ontem. os detalhes podem ter se apagado, mas os sentimentos e sensações continuam vívidos e marcados em mim. provável que eu estivesse andando pela rua quando recebi em mãos uma carta alva e sem remetentes; e mesmo sendo anônima, eu sabia que a carta era sua e que você voltaria. não lembro em palavras o que a carta dizia, mas sua decodificação revelava que voltaríamos a nos ver. fiquei ofegante e alegre, a saudade me matava por dentro e eu sofria caladamente. agora não seria mais preciso esconder meus sentimentos.
   você surgiu atrás de meus ombros e pude ver teus passos infantis e desengonçados aproximarem-se de mim, juntamente com teu rosto risonho e inocente. meus olhos provavelmente encheram-se daquele brilho que você costumava dizer ser lindo e vivo, na verdade eu me sentia viva. ah! conversamos, sentamos, em um clima lindamente parisiano, o som ao fundo, o pôr do sol, os garçons e as mesas rústicas, um café amargo para você e chocolate quente para mim. sobre o que falamos? não sei, nem faço a mínima ideia.
   como eu disse, minha memória está falha para estes acontecimentos, e tudo o que consigo lembrar parece estar muito tempo adiante do que deveria. ou seja, depois que conversamos naquele clima romântico e nos identificamos como amigas, minha lembrança mais próxima se aloja em uma casa que desconheço ao mesmo tempo que me parece familiar. estávamos lá, eu um pouco cansada de sua voz e a forma como conseguia me irritar facilmente, e você cada vez mais desejosa de achegar-se ao meu lado.
   iniciamos uma briga ferrenha, provavelmente por ciúmes bobo, e eu já me sentia sufocada há algum tempo. de tanto brigar e gritar, você foi capaz de abalar o meu psicológico como até hoje ninguém o faz, e assim todas as coisas passaram a significar pouco ou nada, ao mesmo tempo que o medo alastrava meus pés desejando me travar. eu implorava e suplicava, como nas outras vezes, para que parasse com as brigas inúteis e sem fundamento, para que me deixasse em paz, para que sumisse novamente e jamais retornasse.
   você aproximou seu rosto do meu, eu afirmo que tudo ao redor estava esfumaçado e o seu rosto foi profundamente aproximado, como se filmasse através de um olho de peixe. uma luz clara surgia por trás de ti, e o meu medo cada vez maior já havia se tornado em pavor e pânico. "óh deus! liberte-me!" era tudo o que conseguia pensar, e passou a ser engraçado, afinal nem em deus eu sabia se acreditaria, e com qual deus estaria falando?

Continua...

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